21 de abril de 2007

A polêmica da escova progresiva e o formol

Há dois anos surgiu no cenário dos salões de cabeleireiros do Brasil um significativo avanço no manejo dos cabelos crespos, ondulados, finos, rebeldes e frágeis. Um velho conhecido dos médicos, o FORMOL, revelou-se um grande aliado para domar e encorpar os fios, economizando um precioso tempo, com a rotina interminável das escovas, idas ao cabeleireiro, secadores e tudo o mais.

Quem tem aquele tipo de cabelo que encrespa ao menor sinal de umidade no ar, "arma' com facilidade e faz com que fique horas em frente ao espelho, até que os braços doam de tanto usar o secador viu na escova progressiva de formol uma interessante alternativa.

Claro que é bom considerar a hipótese de assumi-los crespos, aprendendo a definir os cachos com os produtos certos, como bons silicones, emulsões e gel definidor de cachos. Mas existem pessoas que não se adaptam mesmo a esta realidade e gostariam muito de se ver com cabelos lisos, sem volume, mais obedientes.

Ficou conhecida a expressão "Escova Progressiva" a técnica onde uma solução de formol, misturada à queratina líquida e uma emulsão leave on, é aplicada mecha a mecha, sendo feita então uma "escova" tradicional. Depois do procedimento, é comum o pedido para que não se lave o cabelo, nem se prenda por cerca de três dias. Mas, na verdade, isso não é importante e nem necessário, veremos a seguir o porquê:

Os cabelos tornam-se bem mais lisos, pesados, encorpados. Vale a pena frisar que o formol NÃO É ALISANTE, ele é sim um "fortalecedor" do fio, criando uma espécie de "capa" que o envolve, endurecendo a queratina que é um constituinte natural e principal do fio de cabelo.

O fato de o cabelo ficar mais liso é decorrência deste novo calibre mais grosso que o cabelo adquire, que faz com que tenha um "caimento" melhor, já que se torna mais pesado. Como se faz a escova logo em seguida à aplicação, o fio se condiciona melhor a assumir essa forma, esticada, como se tivesse sido passado a ferro. E assim permanecesse por mais tempo, mais resistente às variações do clima, da umidade, do amassamento natural que sofrerá na hora da pessoa deitar e mexer nos cabelos.

A boa notícia é que, ao contrário dos alisamentos tradicionais - como a escova "japonesa'", que enfraquecem realmente os cabelos, danificam profundamente os fios, fazendo com que partam e caiam - a escova com formol não é prejudicial aos fios, mesmo sendo repetida a cada 60-90 dias (não chega a ser necessário antes disso), desde que feita com habilidade.

Como tudo tem seu preço, na hora de aplicar o formol, há uma reação natural, de ardor nos olhos, na garganta e até tosse, devido à inalação inevitável do produto. Pessoas alérgicas a bijuterias, perfumes, detergentes, pó, portadoras de eczema alérgico, rinite alérgica podem ter reações alérgicas à substância, com sensibilizações. Assim como os outros alérgicos também podem desencadeá-las.

Para quem não tem problemas alérgicos, o desconforto é apenas na hora da aplicação e, talvez, algumas horas depois, dependendo da concentração usada, mas que não chega a causar nenhum dano. É a conhecida sensação de ardor nos olhos, garganta e, se houver algum pequeno arranhão no couro cabeludo, este local também arderá por algum tempo, apesar de o contato direto com o couro ser evitado.

Os cabeleireiros e seus auxiliares costumam usar luvas e máscaras, já que estão expostos ao produto várias vezes por dia. Mas, exceto em casos de alérgicos, não há nenhum perigo para os profissionais. Nós, médicos, aliás, passamos todo o primeiro ano da faculdade em contato íntimo e diário com formol nas salas de anatomia, onde estudamos o corpo humano diretamente nos cadáveres conservados em formol forte.

O maior problema é se for aplicado muito próximo à raiz, e o cabelo ficar um tanto colado à cabeça, assumindo um aspecto "lambido". Se for passado mais distante desta área, o problema pode ser evitado. Inicialmente usavam concentrações mais fortes de formol nos salões, a 3,5 e 4 %. Mas depois a ANVISA, órgão que regula os produtos de consumo, decidiu liberar apenas as concentrações mais fracas (0,5 %), cujo efeito é naturalmente menor. No entanto, nesta porcentagem a escova pode ser feita com mais freqüência, até alcançar o efeito desejado.

O formol poderá ser usado mesmo em pessoas que não almejam que os cabelos fiquem lisos, apenas mais fortes e domáveis. Basta para isso aplicá-lo em concentrações fracas, sem esticá-los demais com escova (pode ser inclusive aplicado sem que se faça a escova, ou aplicado e moldado em cachos grandes, apenas para desapertar o ondulado natural).

As notícia de mortes por aplicação de formol nos cabelos, recentemente veiculadas, devem ter outras explicações causais. Afinal, uma pessoa intensamente alérgica poderia até ter uma forte reação na hora da aplicação, mas, dificilmente, três dias após, como foi noticiado, quando o produto já está praticamente todo evaporado, sendo o formol altamente volátil. Há que se verificar se a vítima não teria entrado em contato com outros agentes, medicamentos ou sofrido outro tipo de intercorrência.

De qualquer modo, para maior segurança até quanto ao resultado estético, recomenda-se que se faça um teste em uma mecha e se aguarde uma semana para constatar se o resultado é o esperado!


Fonte: Bolsa de Mulher

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